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Prenda-me, se for capaz

Gosto de assistir a filmes. Nesta pandemia, em especial, a Netflix tornou-se minha parceira ao apresentar boas sugestões aos amantes do cinema. Um dos últimos filmes que revi (há filmes que seduzem mais o espectador na segunda vez) foi Prenda-me, se for capaz, dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Leonardo DiCaprio e Tom Hanks. Baseado em fatos reais, narra golpes milionários praticados por Frank, que se tornou um dos mais célebres e bem sucedidos ladrões da história dos Estados Unidos.

Para quem está procurando os últimos filmes premiados pelo Oscar, este não é o caso, já que o Prenda-me, se for capaz é de 2002, lançado, no Brasil, em fevereiro de 2003. Frank Abagnale Jr., o protagonista, ainda antes dos 18 anos, fez-se passar por médico, advogado e copiloto, praticando golpes milionários como mestre do disfarce. A arte do diretor Spielberg amarra o espectador do começo ao fim. É um velho filme sempre com novo sabor, sem dúvida.

Após desligar a tevê, imaginei um filme similar no Brasil. Que prato cheio! Há personagens brasileiros que colocariam o Frank no bolso. Estampada na cara de alguns políticos e empresários está evidente a frase: Prenda-me, se for capaz! Poder-se-ia dizer até mais sobre um dos últimos políticos que, preso por algum tempo, nunca deixou de contar (nós é que não contávamos), com um STF do tamanho do atual. É o que aconteceu, inclusive lhe dando tanto ânimo que voltou como candidato em próxima eleição... É o Brasil político atual!

Há, no filme, uma fábula infantil que explica o que tem acontecido com tanto vigor em nosso país. Dois ratos caíram em um pote de nata. O primeiro rato desistiu e se afogou. O segundo rato se esforçou tanto que transformou a nata em manteiga e saiu. Esse é o segredo do farsante: transformar a nata em manteiga e, com isso, não perecer nunca, vencer sempre.

Há, no Brasil, espécimes que bem representam a realidade que estamos vivendo. Ao final do filme, o golpista surpreende ao passar para o lado da polícia, que aproveita o seu excepcional talento para desvendar crimes. Caberia perguntar: por que, no caso brasileiro, os nossos hábeis farsantes não se transformam em produtivos construtores de soluções para o nosso país? Por que, ao invés de milhões de votos inconscientes, confirmando suas farsas, não são desafiados a usar as suas enormes capacidades para a solução dos nossos problemas? Por que também não transformar a nata em manteiga e sair dos graves problemas em que estamos afundados? Uma resposta positiva poderia mudar os rumos do Brasil.

Texto: Máximo Trevisan
Advogado e escritor

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